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"If you want to panic, panic early"

Depois de anos de boa performance e mercados calmos, existe alguma probabilidade de irmos viver muito maior oscilação de mercado e, potencialmente, quedas fortes, como acontece ciclicamente. A valorização dos activos financeiros é elevada, o ambiente económico está em máximos e por isso o mais habitual será termos um período de retornos negativos. No entanto nunca se sabe e pode ocorrer, como em 2015 e após quedas pouco significativas, voltarmos a novos máximos. Como é muito difícil acertar no timing de saída e depois muito difícil acertar no timing de entrada, o comportamento dos investidores que tende a resultar melhor no longo prazo é manter os investimentos e aceitar as perdas intermédias, que devem estar ajustadas ao perfil de risco do investidor. Perfil conservador, perdas de 5% a 15%; perfil moderado, perdas de 10% a 25%; perfil dinâmico, perdas de 15% a 35%; e perfil só acções, perdas de 20% a 50%. Estes níveis de perdas são elevados e intimidantes, mas não são garantidos. São os cenários mais negativos com que o investidor tem que contar.

Se o investidor contar com este comportamento como possível e o aceitar, sabendo que a sua carteira foi bem construída e irá eventualmente recuperar e obter retornos acima das taxas de juro sem risco, então estará preparado para tudo o que o mercado poderá fazer.

No entanto, uma coisa é intelectualmente saber estes movimentos de mercado, outra será vivenciá-los. É muito mais duro ter perdido uma parte significativa da carteira e estar rodeado de notícias negativas que fazem o investidor reagir emocionalmente, vendendo na altura em que os activos estão desvalorizados e o ambiente é extremamente negativo. Tal fará com que uma perda temporária de capital se torne em permanente e assim cause danos ao investidor.

Neste momento os mercados financeiros estão ainda muito próximos de máximos e o ambiente ainda é muito positivo, existindo também grande probabilidade de, passado uma pequena turbulência, voltarmos a subidas – sim, o normal será o mercado ir atingindo novos máximos.

Por isso a decisão que se coloca ao investidor é:

A – Vou tentar acertar no timing de mercado e sair para voltar a entrar mais tarde

B – Vou manter o portfolio com o nível de risco que foi definido como um nível óptimo dada a minha capacidade e vontade de assumir risco

Historicamente os melhores resultados encontram-se na hipótese B, mas o comportamento dos investidores tende a ser decidir racionalmente pela B e depois emocionalmente não aguentar e vender nos mínimos. Nesse caso obviamente teria sido preferível optar pelo A. Assim, costuma-se dizer “if you want to panic, panic early”

Nesta fase, cada investidor, particular ou institucional, deverá tomar a sua decisão e, sugeria, escrever o racional da mesma, de modo a que daqui a uns anos, tenha o mercado corrigido significativamente ou voltado a subir, o investidor possa voltar à decisão tomada com a melhor informação disponível e compreenda o racional, de forma a não avaliar a decisão apenas pelo resultado. Nós estamos no campo das probabilidades, o futuro é incerto e o risco é exactamente mais coisas poderem acontecer que aquelas que vão acontecer. Apesar de, depois de acontecerem, nos parecer que só podia ter acontecido o que efectivamente aconteceu (“hindsight bias”).

Assim, a decisão fica no investidor:

A – Vender e tentar comprar quando o ambiente estiver mais negativo e os resultados passados forem muito maus

B – Manter a alocação de acordo com o perfil de risco e aguentar sem vender aconteça o que acontecer

Os gestores não conseguem prever o futuro, mas podem e devem ajudar a explicar as opções e avaliar os cenários mais previsíveis, tanto de comportamentos de mercados, como do comportamento dos investidores. O último claramente mais importante que o primeiro: "The investor's chief problem - and even his worst enemy - is likely to be himself." – Benjamin Graham

Luís Lobo Jordão, CFA