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“Principles” de Ray Dalio e “Skin in the Game” de NN Taleb

Esta semana vou estar de olho em... “Principles” do Ray Dalio e “Skin in the Game” de NN Taleb.

Esta semana vai ser algo atípica, pois vou estar de mini férias! De qualquer modo vou estar de olho nos mercados, claro que do meu modo um pouco menos convencional. Vou acabar de ler o livro “Principles" de Ray Dalio e começar o "Skin in the Game” de Nassim Nicholas Taleb. São ambos livros que juntam insights sobre filosofia e mercados, áreas em que tenho muito mais interesse do que o ciclo noticioso de curto prazo.

Ray Dalio é o fundador do maior hedge fund do mundo, a Bridgewater, que tem um modo de operar muito diferente (oposto quase?) do modo de operar de uma sociedade gestora tradicional. Claro que o meu interesse também vem de ele há muito usar algoritmos no processo de investimento. E Ray Dalio explica o seu uso de forma brilhante, como uma transformação dos princípios identificados em regras de decisão. Simples e eficaz.

O livro está cheio de princípio extremamente interessantes, mas focava-me num deles: "Idea Meritocracy”.

O sistema e os algoritmos que Ray Dalio implementou na Bridgewater devem levar a que as melhores ideias vençam. Independentemente da sua origem, uma ideia com qualidade consegue vingar.

Para conseguir atingir uma "Idea Meritocracy", existem duas regras essenciais:

• "radical truthfulness and transparency"

e

• "believability weighted decision making"

Na Bridgewater todos têm a obrigação de dizer exactamente o que pensam sobre todas as situações e por isso têm ao seu dispor toda a informação. A crítica é incentivada e a criatividade apoiada. Não existem silos nem decisões "top down" que não se pode contestar. Tudo é registado e disponibilizado a todos. Ninguém se pode esconder ou usar a hierarquia como “proteção”. Incluindo obviamente ele próprio. Muitos tomam uma crítica como algo negativo, como um ataque, mas o objectivo da crítica é a melhoria e isso é salutar “Pain + Reflection = Progress".

A segunda regra, ligada a esta, é que as opiniões/decisões são todas registadas e avaliadas, e para se chegar a uma decisão sobre um assunto, cada pessoa tem um índice, que decorre da sua capacidade para a área em concreto. As decisões não são tomadas de forma democrática ou autocrática como em muitas organizações, mas de um modo em que o mérito individual é o factor mais importante. O que interessa é o argumento.

Com estes princípios e regras (e muitos outros) desenvolvidos ao longo de décadas Ray Dalio conseguiu que o mecanismo de decisão fosse melhorando na Bridgewater e o office politics fosse reduzido. Ele próprio diz que não é um ambiente fácil e as pessoas demoram cerca de 18 meses a adaptar-se. Muitas não o conseguem. Mas isso levou a uma verdadeira Idea Meritocracy - um sistema onde as melhores ideias vingam. Não por exceção, mas por regra. E isso leva também a “Meaningful Work e Meaningful Relationships” e portanto grande satisfação pessoal.

Mas para saber mais sobre o Ray Dalio e os “Principles”, para além do livro, sugeria assistir à Ted Talk que ele fez no ano passado. Também há um recente filme de animação, simples e interessante; assim como um filme sobre mercados financeiros, que já tinha feito há uns anos.

Quanto ao novo livro de Nassim Nicholas Taleb estou muito interessado no desenvolvimento que faz do conceito ‘skin in the game’, já anteriormente abordado nos seus livros. Concordo com ele que, da minha experiência de organizações nos mercados financeiros, este problema é gritante. Há organizações de gestão de activos onde quase ninguém “eat their own cooking” e portanto colhe os benefícios (salários, prémios) e não suporta qualquer risco. Infelizmente os reguladores acabam por incentivar este comportamento com regras de conflito de interesses desajustadas conforme muito bem explica NN Taleb.

Algumas das grandes ideias apresentadas neste livro, só para abrir o apetite:

“Never trust advice from experts who aren’t risking their own necks”

“Skin in the game comes with conflict of interest. What I hope this book will do is show that the former is more important than the latter. There is no problem if people have a conflict of interest if it is congruous with downside risk for themselves. Market manipulation and conflicts of interest are more benign than impunity for bad advice.”

“To take one example, we live with ever more regulation that seems to mitigate risk. The truth, however, is that overregulation creates barriers to entry as well as incentives for bureaucrats to construct ever more complex rules so that they can later find lucrative jobs in the private sector to interpret them.”

Junto também uma pequena entrevista de NN Taleb a Erik Schatzker da Bloomberg (https://www.bloomberg.com/news/videos/2018-03-05/taleb-says-investors-need-insurance-from-market-drops-video)

Bem, só sei que vai ser uma semana interessante!

Luís Lobo Jordão, CFA

Artigo escrito para a rubrica ‘Esta semana vou estar de olho em…’ da Funds People Portugal