Blog

Bem-vindos. Este é um espaço de reflexão sobre temas de investimento e onde se procura contribuir para uma melhor vida financeira. Atenção que todos os artigos são opiniões e não constituem recomendações de investimento. Votos de boas leituras!

Acerca do autor do blog

Independência financeira: qual é o seu número mágico?

 

Este artigo faz parte da série de 12 artigos iniciada no passado dia 31 Outubro 2020, Dia Mundial da Poupança.

Um artigo por mês. Sempre no último dia do mês. Sobre poupar e investir, para poder comprar liberdade.

Aqui fica o segundo da série!

Cada pessoa, cada família terá o seu próprio valor-alvo. Um número pessoal e intransmissível, a partir do qual alcançam a tão desejada independência financeira.

Para uns será 350 mil euros. Para outros 1 milhão. Para outros ainda, 10 milhões. Tudo depende das despesas e estilo de vida desejado por cada um.

Qual o seu valor, tem ideia?

Descubra neste artigo como calcular o montante necessário para deixar de depender do ordenado e alcançar a liberdade financeira.

O que significa conquistar a independência financeira e a quem se destina?

A liberdade financeira está ao alcance de todos. Para uns, a jornada será mais longa. Para outros, a linha da meta pode estar a alguns anos de distância.

Talvez já tenha o suficiente para se reformar aos 40 anos, ou começou agora a actividade profissional e quer trabalhar com afinco neste objetivo.

A estratégia na conquista da independência financeira aplica-se também às pessoas com dívidas e créditos. Estão mais longe do conforto financeiro, mas têm o objectivo em mente.

Esta mentalidade é um activo de valor, capaz de transformar a sua relação com o dinheiro.

“Rich people acquire assets.

The poor and middle class acquire liabilities that they think are assets.”

— Robert T. Kiyosaki

Independência financeira e a regra dos 4%. Como fizeram os outros?

Falar de independência financeira é falar do movimento FIRE.

Foi Mr. Money Moustache - pseudónimo de um canadiano que se reformou aos 30 anos - que começou a suscitar curiosidade. Sobretudo entre os Millennials.

Ao publicar artigos sobre as suas finanças pessoais, estratégias de poupança e conselhos sobre um estilo de vida mais favorável à independência financeira, acabou por contagiar milhares de pessoas.

O conceito de liberdade financeira assenta também nas premissas do conhecido autor Robert T. Kiyosaki, com o best-seller “Rich Dad, Poor Dad”.

Na década de 90, Vicki Robin e Joe Dominguez, já tinham advogado o movimento. Um dos livros de referência do FIRE é o “Your Money or Your Life”.

Mas o que têm em comum estas pessoas?

Todas elas calcularam o valor que precisavam para a reforma e trabalharam nesse sentido. Pouparam e constituíram uma carteira de investimentos, de forma consciente.

Quanto precisa para alcançar a independência financeira?

A regra dos 4% é das mais populares e utilizadas entre os seguidores do FIRE. Permite estimar o montante de levantamentos que é seguro realizar, minimizando o risco de esgotar os fundos.

Mas antes de aplicar a taxa, é necessário calcular quanto deve poupar. Ou seja, qual o valor necessário, no momento da reforma, que permita manter o estilo de vida atual.

Para determinar este número, utiliza-se o seguinte cálculo:

  • Total das despesas anuais x 25 = montante que deverá ter para alcançar a liberdade financeira

Vejamos alguns exemplos:

  • Se as despesas anuais forem de 10.000€, precisará de 250.000€ (10.000€ x 25);

  • Se a soma das contas for mais elevada, imagine-se 48.000€, significa que o número aumentará para 1.200.000€ (48.000€ x 25);

  • No caso de o agregado familiar ter despesas, por ano, na ordem dos 60.000€, precisará de um portfólio no valor de 1 milhão e 500 mil euros.

Daqui se conclui a importância de não ceder ao consumismo e à compra de bens desnecessários.

Mr. Money Moustache apresenta uma estimativa dos anos de trabalho necessários para alcançar a independência financeira, com base na taxa de poupança.

Estimativa do nº de anos de trabalho versus taxa de poupança

Quanto maior for a taxa de poupança, mais perto estará da independência.
Pelo contrário, quanto mais elevadas forem as despesas, mais longe ficará do dia da liberdade financeira. 

“We no longer live Life. We consume it.”

— Vicki Robin 

Qual a origem da regra dos 4%?

A regra dos 4% é utilizada para estimar o valor que é seguro retirar das poupanças e da carteira de investimentos, na altura da reforma.

Neste momento, pode estar a questionar-se de onde surgiu o número. Porquê 4% e não 10% enquanto taxa de levantamento sustentável?

O valor foi determinado por três professores de finanças da Universidade de Trinity, no Texas. Teve por base um estudo publicado em 1998, intitulado Sustainable Withdrawal Rates From Your Retirement Portfolio. Os docentes inspiraram-se, por sua vez, num trabalho de pesquisa realizado pelo consultor de investimentos Wiiliam Bengen de 1994.

Vejamos então como os autores chegaram aos 4%.

No estudo, foram testadas diferentes combinações de investimentos, com maior ou menor risco de exposição às variações do mercado.

Os portfólios analisados eram constituídos por acções e obrigações, em diferentes proporções.

  • 100% em acções;

  • 75% acções e 25% obrigações;

  • 50% acções e 50% obrigações

  • Entre outras combinações.

Foram analisadas diferentes taxas de levantamento (entre 3 e 12%).

Os autores concluíram que a solução mais sustentável passava por adquirir:

  • Portfólio misto, constituído no mínimo por 50% de acções;

  • Taxa de levantamento de 4% ao ano.

Aplicando estes dois preceitos, é possível minimizar o risco de esgotar o capital nas três décadas seguintes. Frequentemente, o portfólio até cresce em apreciação e dividendos, que mais que compensam a retirada!

O estudo assume ainda que os 4% são ajustados à inflação anualmente e que o portfólio, no longo prazo, mantém um desempenho positivo, mesmo com variações no mercado de capitais e períodos da economia mais desafiantes.

A regra dos 4% e a sua relação com rendimentos passivos

Regressando ao cálculo das despesas anuais.

Imagine que, neste momento, tem 100.000€. Significa que poderia retirar 4% deste montante, ou seja, cerca de 4.000€ no primeiro ano.

É um valor baixo para a maioria das pessoas, sobretudo se não existir uma fonte de receitas paralela.

Por isso, temos de, em primeiro lugar, poupar mais, e depois investir o património assumindo algum risco.

Para atingir a independência financeira, e de acordo com a regra dos 4%, a poupança não pode ficar parada numa conta bancária a render menos do que a inflação. Tem que se investir. Em obrigações, acções ou outros investimentos que gerem dividendos, juros ou outros rendimentos passivos.

No cenário português, e apesar do valor das reformas tender a baixar, importa ter em conta os descontos para a Segurança Social no cálculo do valor da reforma.

O caso português: Cálculo da pensão e a regra dos 4%

A plataforma online - Segurança Social Direta - já permite aceder ao historial dos descontos realizados durante a carreira contributiva. 

Mas a funcionalidade mais importante, neste caso, é o simulador que prevê o valor que irá receber na altura da reforma.

Estão disponíveis 2 opções de cálculo: a simulação automática e à medida.

O valor de pensão que vai receber da Segurança Social é de extrema importância porque vem permitir reduzir o montante e os anos necessários para a independência financeira.

Assumindo que recebe 800€ mensais de pensão de velhice e estima ter despesas mensais de 1.500€: 

  • A receita anual será de 11.200€ (800€ x 14 meses);

  • 18.000€ de despesas anuais - 11.200 receita anual (pensão) = 6.800€;

Os rendimentos da segurança social não cobrem a totalidade das despesas. Os restantes 6.800€ anuais deverão provir dos rendimentos da poupança.

  • Fazendo o cálculo do montante para a independência financeira: 6.800€ x 25 = 170.000€

Este é o valor mínimo que deverá ter no momento da reforma por forma a retirar os 4% ao ano e manter o património sustentável.

Atenção que este rendimento terá de ser líquido de impostos. Daí ser extremamente importante considerar a tributação dos investimentos.

O cálculo é expressivo da importância de garantir uma fonte estável de rendimentos passivos. De investir em produtos com retorno e abdicar de luxos que não trazem valor.

Liberdade financeira: Dividir para conquistar

Na fase inicial, designada a fase da acumulação, as atenções não devem estar centradas nos retornos, de forma obsessiva.

Os resultados são mais discretos no início, mas o património com valor está a crescer.

Warren Buffet, um dos maiores investidores de todos os tempos, acredita que a paciência é uma virtude, advoga a simplicidade dos investimentos e a literacia financeira.

"No matter how great the talent or efforts, some things just take time. 

You can't produce a baby in one month by getting nine women pregnant."

— Warren Buffet 

Poupar sem investir é o primeiro passo.

Poupar e investir é o caminho certo para a independência financeira.

Um método utilizado pelos elementos do FIRE é estabelecer etapas. 

Vamos considerar:

  •  ‘Activos’: os valores ao nosso dispor e que nos geram rendimentos (por exemplo, fundos). 

  • ‘Passivos’: as dívidas contraídas e que nos tiram rendimentos (por exemplo, cartão de crédito). 

  • Ignoremos no passivo o crédito habitação. 

  •  ‘Rendimentos’: os valores que recebemos pelo trabalho e investimentos. 

  • ‘Despesas’: os nossos gastos.

Vejamos algumas fases do processo de acumulação de riqueza:

  1. O passivo é superior ao activo e está endividado: tem tido gastos superiores aos rendimentos; nesta fase é essencial aumentar os rendimentos e/ou diminuir os gastos, de modo a reduzir o diferencial. 

  2. O passivo ainda é superior ao activo, mas os rendimentos igualam o valor das despesas:  vive de ordenado em ordenado; é considerado o ponto zero.

  3. Consegue poupar e utiliza essa poupança para eliminar passivos antigos: pouco a pouco começa a ter mais activos que passivos, o balanço é positivo, significa que está no caminho certo, já consegue criar o seu fundo emergência

  4. Tem o fundo de emergência constituído, tem activos que superam os passivos e rendimentos que superam as despesas: o montante acumulado e o retorno dos investimentos permitem viver X anos sem trabalhar.

  5. Alcançou 50% do valor necessário para a independência financeira: reduziu de forma significativa os anos de trabalho até à independência financeira. 

  6. Atingiu 75% do montante planeado: nesta fase, os juros compostos fazem crescer a poupança de forma exponencial.
    Einstein disse que: 

“Compound interest is the most powerful force in the universe.”

Na fase final, o património líquido + activos = 100% do valor da independência financeira. 

Dividir o percurso por etapas, torna a jornada mais simples e recompensadora, certo?

Vai começar a jornada em direção à independência financeira?

Os cálculos apresentados podem ser aplicados em qualquer momento da vida. A curto prazo e com outros propósitos em mente, para além da reforma.

Com activos no valor de 50.000€, talvez seja possível parar durante 1 ou 2 anos, dependendo das despesas. Ter tempo para a família, investir numa mudança de carreira, ou num negócio próprio.

A escolha é individual, mas a estratégia de poupança e investimento é o denominador comum. Alcançar o conforto financeiro dará uma segurança que só um bom planeamento e objetivos bem definidos e quantificados a tornarão possível.

E você, quando vai começar o seu caminho rumo à liberdade financeira? Quanto mais cedo, mais rápido atingirá a meta.

PPR SGF STOIK

 
PoupançaAna Rodrigues