Blog

Bem-vindos. Este é um espaço de reflexão sobre temas de investimento e onde se procura contribuir para uma melhor vida financeira. Atenção que todos os artigos são opiniões e não constituem recomendações de investimento. Votos de boas leituras!

Acerca do autor do blog

Rendimentos passivos: Coloque o dinheiro a trabalhar para si - Parte 2

 

Este artigo faz parte da série de 12 artigos iniciada no passado dia 31 Outubro 2020, Dia Mundial da Poupança.

Um artigo por mês. Sempre no último dia do mês. Sobre poupar e investir, para poder comprar liberdade.

Aqui fica o quarto da série!

Como vimos no mês passado, o conceito de rendimento passivo é algo poderoso. Compreender e utilizar este conceito a nosso favor pode fazer-nos atingir a liberdade financeira muito antes da altura tradicional.

Para tal teremos de desligar a obtenção de rendimento do tempo dedicado a uma actividade. Teremos de concentrar o esforço no início e depois colher os frutos desse esforço. Teremos de actuar estrategicamente e optimizar os projectos onde devemos colocar a nossa energia.

Neste artigo, vamos abordar algumas das opções disponíveis a quem quer seguir este caminho, desde as que implicam maior esforço activo no início, às que praticamente não exigem esforço.

Empreendedorismo

Uma das opções mais comuns para obter rendimento passivo (no futuro!) envolve tornar-se um empreendedor. Com um investimento de tempo (enorme) e capital (depende da actividade), lançar um negócio que, com muito sangue, suor e lágrimas, pode fazer crescer, até se ir tornando menos importantes para a gestão do dia-a-dia e poder ir recuperando tempo para si. Eventualmente até poderá vender o negócio e transformar esse capital em algo muito passivo. Pelo menos essa é a ideia. Claro que nem sempre o negócio evolui deste modo e há que estar preparado para esse risco.

Side Hustles (projectos pessoais monetizáveis)

Uma opção menos radical será desenvolver um projecto pessoal, lateral ao emprego actual, que pode ir gerando algum rendimento e eventualmente, se crescer, permitir uma redução do tempo alocado ao emprego principal. Por exemplo, escrever um livro, escrever um Blog, vídeos no YouTube e outras áreas, em que depois de um esforço inicial, o produto pode ser revendido / reutilizado com um reduzido esforço do nosso lado.

Um outro negócio em que os portugueses tendem a investir para obter rendimentos passivos, costuma ser o arrendamento. A familiaridade com o activo, a possibilidade de alavancagem através do crédito hipotecário e a relativa segurança da evolução dos preços tendem a ser os argumentos para esta opção. Sendo uma opção muito válida e extremamente eficaz quando bem utilizada, normalmente é necessário alocar algum tempo ao acompanhamento e resolução de problemas de inquilinos. Isto especialmente num país com uma política de habitação que tem sempre promovido a opção por casa própria e desincentivado o investimento para arrendamento. 

Os investimentos financeiros normalmente permitem uma maior passividade, embora exijam alguma aprendizagem, que vai depender muito do tipo de investimento que se escolhe.

Produtos financeiros para começar a obter rendimentos passivos: Exemplos 

1.ACÇÕES

Os depósitos a prazo continuam a ser o mecanismo de eleição dos portugueses, apesar dos retornos reduzidos - ou nulos - devido às baixas taxas de juro na zona Euro. 

A tendência europeia e mundial é outra: os investidores dão prioridade aos investimentos em mercados financeiros (acções, matérias-primas, entre outras).

Apesar de as acções serem  o ativo que melhor remunerou o capital nos últimos séculos, os portugueses têm aversão a este produto financeiro. Mas o risco pode ser minimizado com o conhecimento e experiência. 

"Risk comes from not knowing what you're doing.”

— Warren Buffett

As acções representam uma parcela do capital social de uma empresa. Ao comprar estes activos, torna-se sócio ou acionista, mas com direitos e deveres limitados pelo número de acções:  

  • Não se preocupa com burocracia; 

  • Não está envolvido na gestão da empresa (mas pode votar em Assembleias Gerais); 

  • Recebe dividendos de forma periódica; 

  • Participa no crescimento da empresa e valor das acções. 

A compra de acções 

Após uma empresa estar cotada na bolsa de valores, o preço das acções flutua todos os dias e de acordo com o princípio da lei da procura e oferta. 

O mercado accionista exige conhecimento, mas é diferente da imagem a que estamos habituados nos filmes, com imagens de trading, envolvendo atenção constante, compra e venda no momento. 

Mas para se obter rendimentos passivos sustentáveis, a opção tende a ser de mais longo-prazo, comprando boas empresas, num portfolio diversificado e manter os títulos em carteira, recebendo no futuro dividendos e apreciação de capital. 

Em que tipo de acções investir? 

A decisão de incluir esta classe de activos na carteira de investimentos, pode ter por base alguns seguintes critérios:  

  • Vantagens competitivas

  • Tamanho e solidez da empresa; 

  • Historial de resultados e expectativas futuras; 

  • Remuneração dos accionistas. 

A distribuição de dividendos é um aspecto importante a considerar. Há empresas que distribuem os lucros pelos accionistas, outras não têm esse hábito. 

Uma estratégia para decidir por um título ao invés de outro passa por não focar, em exclusivo, a atenção na variação dos preços, mas no rendimento que vão pagando. 

Neste processo de escolha, é também fundamental olhar para as empresas que estão por detrás das acções. 

A compra de títulos é realizada mediante o acesso a plataformas online especializadas, corretoras e bancos. 

Ao contrário dos fundos (que veremos mais adiante):  

  • Não há comissões de gestão;

  • Também não existem comissões de subscrição e resgate, mas existem custos de transacção dos títulos, ou seja, cada vez que se compra ou vende uma acção;

  • Existem custos de custódia. 

Há que ter em atenção o peso das comissões e, uma vez mais, a mentalidade de tolerância às perdas.

A rendibilidade média das acções tem variado entre 7-10% no longo prazo. Neste momento devemos ser mais conservadores e apontar para retornos esperados entre 6% e 8%. Já nos depósitos a prazo ou contas poupança, a rendibilidade não chega a ultrapassar o valor da inflação.  

2. OBRIGAÇÕES

As obrigações são a parte segura num portfólio diversificado. 

Mas actualmente os valores não são animadores. 

Na zona Euro, a rendibilidade implícita está perto de 0% ou, em alguns casos, negativa. Devido às taxas baixas, não tem sido o melhor investimento, mas o cenário pode alterar-se. 

Como funcionam as obrigações? 

As empresas financiam-se junto dos bancos, mas também têm outros recursos. As obrigações são empréstimos, realizados por investidores, a empresas ou Estados. 

A compra de obrigações, pressupõe a compra da dívida de uma organização, sendo necessário dominar alguns conceitos base: 

  • Preço de emissão: valor pago pela obrigação no momento de emissão. 

  • Valor nominal: valor que o investidor irá receber na maturidade do empréstimo - pode ser diferente do preço de emissão.

  • Preço de mercado: valor a que transaciona no mercado secundário num dado momento

  • Taxa de cupão - taxa de juro que o investidor receberá. 

  • Prazo de reembolso - período de tempo do empréstimo, entre a compra das obrigações e o reembolso do capital.

  • Yield to Maturity (YTM) - taxa implícita de rendimento da obrigação se comprada ao preço do momento e detida até à maturidade (assumindo que os rendimentos são reinvestidos à mesma taxa).

As obrigações, são um bom investimento? 

Numa estratégia de diversificação, é importante ter obrigações em carteira. Os retornos são muito baixos nas obrigações com menos risco, mas claro que existem obrigações em que o devedor não é tão sólido e que podem apresentar taxas de juro mais elevadas para compensar esse risco extra.  

Num cenário perfeito, que cumpra as condições seguintes, o investimento é seguro: 

  • Manter a obrigação até à maturidade; 

  • Empresa não declara falência; 

  • Entidade paga os juros de forma constante e nos prazos acordados. 

Tal como noutros ativos financeiros, quanto maior a percepção de risco, maior o rendimento exigido pelos investidores. Caso algum dos critérios anteriores falhe, existe o risco de perda total ou parcial de capital. 

Para avaliar o risco, há que ter em atenção alguns critérios-base: 

  • Classificação das empresas com base nas agências de rating; por exemplo, a Standard & Poor´s ou Moody’s; 

  • Risco de (falta de) liquidez - traduz-se em não conseguir transformar a obrigação em dinheiro num prazo razoável e sem ter de reduzir o preço de forma significativa; 

  • Risco de taxa de juro - traduz-se numa desvalorização da obrigação decorrente de uma subida das taxas de juro de mercado (tornando a nossa obrigação menos atractiva). 

A longo prazo, as obrigações tiveram um histórico de rendibilidade, em média, de 5%. Neste momento as taxas implícitas obrigam a assumir algum risco para conseguir rendimentos de 2-3%. 

3. FUNDOS DE INVESTIMENTO (GESTÃO ACTIVA)

É provável que o seu banco já lhe tenha proposto um fundo de investimento.  

Trata-se de um portfólio diversificado constituído por activos (podem ser acções, obrigações, imobiliário, matérias-primas, etc.), que são negociados todos os dias em bolsa. Não por si, mas por um profissional. 

Existe uma gestão activa, onde o gestor acompanha a evolução dos títulos em carteira. Logo há comissões associadas e que são importantes para a rendibilidade final.

Os fundos de investimento são um instrumento financeiro interessante enquanto geradores de rendimentos passivos. 

Ao adquirir um fundo, significa que compra unidades de participação (UP) e a principal vantagem é conseguir ter uma exposição diversificada, mesmo com montantes pequenos.

O que saber antes de investir num fundo

Os fundos de investimento têm uma classificação. Uma escala de risco que vai de 1 a 7. O risco e as remunerações esperadas (não garantidas) evoluem habitualmente no mesmo sentido. 

Na aquisição de um fundo, é de extrema importância ler e analisar a ficha com informação sobre o produto.

Interessa também saber a composição do fundo, mais do que a própria perfomance passada, para poder avaliar os riscos incorridos e as perspectivas futuras das componentes do fundo. 

Outro factor essencial à decisão é o tipo de gestão - mais ou menos activa. Há argumentos que sustentam a preferência por um ou outro estilo de gestão. A nossa abordagem está mais alinhada com fundos que não têm muita atividade no mercado. A gestão pode ser activa pelas alocações diferentes face ao índice de referência e pelos resultados ajustados pelo risco que obtém, e não por estar sempre em grande actividade de compra/venda. Essa actividade, na nossa perspectiva, tende a ser prejudicial aos retornos dos fundos. 

Vantagens dos fundos de investimento  

Os fundos mobiliários podem ser constituídos por uma panóplia de activos, como obrigações, depósitos a prazo, acções, outros fundos, ETFs, etc. 

Entre as principais vantagens, permitem:  

  • Maior diversificação da carteira de investimentos, reduzindo o risco de exposição a um só título - boa prática de investimentos. 

  • Menores custos de transação - embora dependa do valor de investimento; 

  • Reinvestimento automático dos juros e dividendos; 

  • Forma mais económica em comparação com a compra de títulos directamente no mercado. 

  • Permite aos pequenos investidores terem acesso ao mercado de investidores institucionais. 

Na maioria dos fundos, não existe capital garantido. Como a gestão se desvia dos índices poderá ter um desempenho superior, mas também inferior aos dos índices. A estatística mostra que em média o desempenho será inferior pelo montante de comissões cobradas, mas que existem cerca de ¼ dos fundos que consegue desempenhos consistentemente superiores numa base de risco/retorno. Consistentemente implica uma análise com horizontes temporais adequados à estratégia, dado que o curto prazo será sempre imprevisível. 

À semelhança dos fundos de índice, que exploramos de seguida, permitem o investimento com montantes iniciais pequenos. 

“Diversifying well is the most important thing you need to do in order to invest well” 

— Ray Dalio 

4. FUNDOS DE ÍNDICE E ETFs

Se procura uma fonte de rendimentos com um retorno financeiro atrativo e com exposição passiva aos mercados, já deve ter ouvido falar dos ETF.  

ETF = Exchange Traded Fund = Tracker = Gestão passiva 

Existem vários tipos de ETFs, mas os mais comuns têm todas as características dos fundos tradicionais geridos pelos bancos e sociedades gestoras. A diferença é que são transaccionados em bolsa. 

Os ETFs típicos são activos financeiros que replicam os principais índices, procurando um desempenho próximo dos mesmos. 

Enquanto os fundos activos tentam superar a performance dos índices, os ETF seguem as tendências, daí serem chamados “trackers”. 

Eis algumas características que os tornam atractivos: 

  • Custos de gestão mais reduzidos; 

  • Capital inicial com pequenos montantes; 

  • Replicam um índice de referência; 

  • Investem num portfólio diversificado. 

A frase de John Bogle reflete a filosofia deste tipo de investimento: 

Don't look for the needle in the haystack. Just buy the haystack!"

— John Bogle

5. FUNDOS PPR - UM MIX PERFEITO?

Uma alternativa cada vez mais utilizada é misturar todos estes activos geradores de rendimentos passivos, num único instrumento. Sim, podemos juntar acções, obrigações, fundos de investimento e ETFs dentro de um único instrumento.

Os apologistas desta opção apoiam-se na diversificação como arma para aumentar a probabilidade de obtenção dos resultados desejados. 

A esta diversificação acresce algo muito importante para a vida concreta do investidor, que é minimizar a fiscalidade. Como investidores sabemos que os rendimentos dos nossos investimentos são muito taxados e por isso muitos preferem evitar rendimentos passivos numa fase inicial e apenas posteriormente viver das mais-valias. Mas tal pode impedir a utilização de instrumentos que sejam mais interessantes. Um exemplo são acções com elevada distribuição de dividendos. Investindo nesses activos através de uma estrutura fiscalmente eficiente obtém-se o melhor de dois mundos.

Mas esta não é a única vantagem. Ao contrário de muitos dos outros investimentos, nos PPRs nós conseguimos definir um montante de entrega mensal que vai automaticamente ser debitado à nossa conta e investido sem qualquer intervenção da nossa parte. Set and forget! Isto tem enormes benefícios, quer ao nível da simplificação quer ao nível comportamental - será que vamos mesmo investir mensalmente durante anos se todos os meses tivermos de ir comprar manualmente unidades do nosso investimento definido? 

E depois vem a automatização na altura do resgate. Sim, a altura em que vamos colher os frutos dos nossos investimentos. Também aí podemos definir quanto queremos que nos caia na conta numa base mensal e teremos o fundo a pagar-nos um “salário” mensalmente, sem qualquer esforço.

A outra automatização e passividade embutida na opção PPR é que vamos ter uma equipa a seleccionar os nossos investimentos, adaptando a constituição do fundo à evolução dos mercados e dos produtos disponíveis. Claro que vamos querer ir acompanhando e teremos sempre de investir umas horas de tempo para sabermos que estamos no bom caminho, mas vamos fazer esse percurso com algum apoio. Será necessário suportar os custos desse apoio, mas o benefício fiscal e a melhoria de desempenho comportamental, bem como a simplificação podem claramente compensar. E a gestão pode acrescentar valor em termos de risco/retorno do portfólio.  

Rendimentos passivos: O segredo para a independência financeira 

Quer seja através de um side hustle, quer seja através do arrendamento de um imóvel ou através de activos financeiros, constituir fontes de rendimentos passivos é essencial para poder atingir a liberdade financeira.

O objectivo é simples: colocar o dinheiro a trabalhar para nós!

"In the long run, it’s not just how much money you make that will determine your future prosperity. It’s how much of that money you put to work by saving it and investing it."

 — Peter Lynch 

PPR SGF STOIK

 
InvestimentosAna Rodrigues